segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

São Bernardo

 S. Bernardo é o segundo romance de Graciliano Ramos, lançado em 1934. Considerada a mais importante obra de ficção do movimento modernista, envolve o regime fundiário e os conflitos sociais do Nordeste brasileiro, sem excluir a forte caracterização do sertanejo. Essa obra consolidou Graciliano Ramos como um dos maiores romancistas de toda história literária de nosso país. A linguagem despojada trás o cotidiano do sertanejo, criando uma trama fortemente regionalista.
 A história se passa no século 30, narrada por Paulo Honório (personagem de 50 anos). A obra é composta por lembranças sobre a própria vida do narrador, que permaneciam inexplicadas até a ideia de escrever um livro, tentando compreender os conflitos e seu passado assombroso.
 Paulo conta sua ascensão e  decadência, partindo da compra de São Bernardo (fazenda de Viçosa). A dificuldade do narrador em transcrever os fatos para palavras é óbvia conforme passa-se de capítulo a capítulo. O ato de escrever tranforma-se em algo necessário a ele, sempre lembrando através dos pios de corujas (fato estranho que acaba sendo compreendido no decorrer da trama). 
 O enredo trata de sua vida desde a fazenda até a separação da família, que ocorre após a morte de Madalena, sua esposa. A dificuldade de separar o passado do presente faz com que o leitor tenha certa atenção aos detalhes da obra, mesmo porque o narrador assume que não sabe diferenciar suas lembranças da atual solidão em que vive. Também ocorre a transformação do herói, que se descobre Fera propriamente dita. Enquanto Madalena vivia, Paulo nota que seus defeitos (ciúmes e brutalidade, principalmente) acabam destruindo o pouco de afeto que ela lhe dedicara. Com isso, começa a se perceber monstruoso: "Que mãos enormes! As palmas eram enormes, gretadas, duras como casco de cavalo. E os dedos eram também enormes, curtos e grossos. Acariciar uma fêmea com semelhantes mãos (...) estava medonho. Queimado. Que sobrancelhas!" (cap. 26).
 Enquanto que o romance se desenrola, há uma forte presença ideológica e política. Fazendo, assim, com que o leitor reflita sobre os conceitos de isenção e racionalidade. Se Paulo Honório, por trilhar caminhos individuais, foi punido, será possível que o homem como indivíduo possa fazer tal escolha sem um julgamento ou decadência vindos da sociedade? Eis o motivo pelo qual S. Bernardo pôde ser criticado como obra de cunho psicológico.
 
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Inocência

Inocência é um romance regionalista escrito por Visconde de Taunay, no ano de 1872. A obra retrata a vida na região sul-matrogrossense (sertão), mostrando o indivíduo como produto do meio social. Narra-se a história do suposto médico Cirino Campos, sua viagem e chegada na casa de Martinho Pereira, personagem sertanejo que mantém o tradicionalismo com relação à educação de sua filha, Inocência. A moça encontra-se doente, o que veio a calhar com a visita à cidade pelo jovem "doutor".  Inocência é dotada de extrema beleza e ingenuidade, dificultando os eforços de Cirino por não apaixonar-se. É invitável a força que os atrai, apesar do noivado e iminente casamento entre a jovem e Manecão (forte sertanejo que inspira medo em grande parte dos que o conhecem). Durante as várias narrações sobre o sertão e o hábito de Martinho em hospedar viajantes em sua fazenda, surge um interessante personagem: Dr. Guilherme Meyer, alemão que tenta encontrar o máximo de insetos possíveis para completar suas coleções de cientista naturalista. Em sua ignorância, Martinho sente-se privilegiado por abrigar dois homens "estudados". O conflito mostra-se no decorrer da obra, quando o sertanejo começa a ter desconfianças sobre os interesses de Meyer com relação a sua filha, fato que o impede de notar o verdadeiro romance que nascia, entre Cirino e Inocência. Os dias passam, Meyer caçando borboletas na floresta, Martinho indignado com seu hóspede, lamentando a ausência de Manecão, que poderia tomar uma atitude, Cirino curando e procurando Inocência.  Ao se perceber apaixonada pelo médico, a jovem não consegue mais controlar seu coração, apesar de vigiada e sem vontade própria. Em uma noite, encontram-se ao luar, vigiados pelo anão Tico (servo de Martinho). Resolvem que Cirino partiria em busca do padrinho de Inocência, o único que poderia ajudá-los a ficarem juntos. O doutor parte e Manecão volta para a cidade. Passam-se alguns dias de muito constrangimento por parte de Inocência; estranhamento de Manecão e ódio de Martinho pelas atitudes da filha, imaginando que sua mudança era atribuída a Meyer. Cirino encontra o padrinho da moça (Antônio Cesário) e conta-lhe sua história. Antônio promete pensar e diz que sua confirmação seria dada no dia seguinte, com sua presença na estrada. No mesmo dia Tico conta o romance dos jovens a Martinho e Manecão, que ficam estupefados e com sede de morte. Inocência assume ao pai seu amor e nega-se a casar com o forte sertanejo. O pai promete-lhe a morte de ambos. O fim do livro se dá com o assassinato de Cirino por Manecão e seu encontro, agonizante, por Antônio. Em suas últimas palavras Cirino pede-lhe que não deixe que o casamento de sua amada seja consumado e morre com um grito de dor, com a palavra mais doce que poderia brotar-lhe dos lábios: "Inocência!".

Urupês

  Urupês é uma obra de Monteiro Lobato, publicada no ano de 1918. O livro é composto por 14 contos diversos, mostrando histórias quotidianas em que o escritor utiliza de linguagem popular, o que dá certo brilho e melhor comunicação à obra. Quando Monteiro Lobato escreveu os vários contos seu objetivo era, em suma, criticar o modo de vida dos caboclos. Cada história tem, geralmente, um fim trágico e/ou inesperado. 
  Escrito na Era Modernista Brasileira, Urupês é o primeiro livro de Monteiro Lobato. O autor marcou a literatura nacional pois enquanto os escritores da época voltavam-se aos moldes europeus, ele corajosamente escrevia sobre a vida do pacato cidadão, da senhora dos retalhos, do engraçado arrependido ou  sobre as crueldades pelo preconceito.
  Um livro que pode lhe causar lágrimas, risos ou até mesmo revolta. Urupês é o típico ícone literário que não lhe passará em branco.

P.S.: Eis os 14 contos:

  • Os faroleiros
  • O engraçado arrependido
  • A colcha de retalhos
  • A vingança da peroba
  • Um suplício moderno
  • Meu conto de Maupassant
  • "Pollice Verso"
  • Bucólica
  • O mata-pau
  • Bocatorta
  • O comprador de fazendas
  • O estigma
  • Velha Praga
  • Urupês
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Eu sei, mas não devia


Verdades sejam ditas: a gente se acostuma. Se acostuma a não viver, a deixar pra amanhã, a cantar afinadinho e seguir o politicamente correto. Acostumamo-nos a uma falta de dinâmica tamanha, que aumenta medos e monstros de armário. A gente se molda ao sim e ao não, sem ver uma saída menos dolorosa...E, se ela existe, será nossa via de regra, sempre! A gente se acostuma ao normal, sem saber que tudo é excentrecidade. A vida é cheia de pequenos detalhes brilhantes, que formam momentos, que criam lembranças, que viram passado e recebem o nome de vida. A gente se a costuma a ignorar esses detalhes, logo, se acostuma a não viver.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Lucíola, o anjo pecador.

Quinto romance de José de Alencar, Lucíola (1862) se passa em uma sociedade marcada pela burguesia, com um reflexo muito grande dos grupos Parisienses da época. A crítica feita pelo autor é agressiva em suas entrelinhas, onde o conceito a ser tratado é a aceitação de uma jovem mulher que teve o destino despedaçado ao virar cortesã (prostituta rica).
Os protagonistas da obra são Paulo e Lúcia. A história é narrada por Paulo, ao primeiro capítulo compreende-se que o livro é uma memória compartilhada com uma mulher, a qual ele chama de G.M. (pseudônimo de José de Alencar). A narrativa conta o romance vivido entre os protagonistas, cheio de conturbações, ciúmes e desejos. A atração entre ambos é incialmente carnal, no entanto, um amor puro nasce entre Paulo e Lúcia.
 O livro inicia-se com Paulo contando sua chegada de Olinda ao Rio de Janeiro, com 25 anos. Logo conhece Lúcia (jovem de 19 anos) e tenta conquistar-lhe com intenção de fazê-la mudar de vida. Ela se entrega a Paulo, mas conforme vai-se apaixonando pelo rapaz, nega-lhe o corpo. Com o tempo Lúcia apresenta desconfortos e doenças desconhecidas. No decorrer do romance são citadas as várias discussões e desculpas por parte de ambos. Com objetivo de aliviar a enfermidade, Lúcia muda-se para o interior com sua irmã mais nova (Ana, que vivera em um internato por muito tempo, as custas de Lúcia), mas não o faz sem antes contar a Paulo sua história e a causa pela qual  nega-lhe a voluptuosidade: confessa-lhe que seu verdadeiro nome é Maria da Glória e que aos 14 anos vendeu o corpo a um vizinho (Couto) para salvar os parentes quase mortos pela febre amarela de 1850. Apenas o pai sobreviveu e, após descobrir o modo pelo qual a filha conseguiu salvá-lo, expulsou-a de casa. Maria da Glória então foi viver com uma mulher que cuidava de jovens cortesãs (Jesuína) e desde então ganhou a vida dessa forma. Enquanto vivera na casa de Jesuína, cohecera uma moça chamada Lúcia, que morrera pouco tempo depois (tornando-se sua única amiga e memória realmente feliz). Antes de passar um ano na Europa com um amante, mudou seu nome para Lúcia e fez com que seu pai soubesse de sua "morte", alcançando, assim, o perdão do único familiar que lhe restara. A causa pela qual Maria da Glória não mais aceitava saciar os desejos de Paulo era que precisava purificar a alma, enquanto seu corpo já não tinha mais salvação. A nova vida no interior trouxe a ambos um bom tempo de pureza e felicidade, até que ela torna a adoecer e falece. Estava grávida de Paulo e não quisera tomar o remédio que a faria expelir o feto já morto. Nessa evidente separação entre o físico e o espiritual há a concepção de amor típica do Romantismo. A redenção alcançada.

Precioso saber

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Uma pequena mudança aos leitores...


Olá, literatos! Esse post é bem curtinho e objetivo rs. Pois bem, quero avisá-los que a partir de hoje postarei resenhas dos livros da UFPR (2012/2013). Sim, vou prestar vestibular ao fim desse ano...Portanto, é uma maneira de fixar melhor o conteúdo e ajudar quem também estiver nesse martírio e correria de vestibulando. Continuarei a postar textos livres e crônicas, mesmo porque não consigo ficar sem escrever sobre essa loucura que é nossa vida de ser pensante. Asseguro-lhes que tais resenhas não serão feitas sem devida supervisão, ou seja, estarei sempre tirando dúvidas com meus queridos mestres de Literatura! É isso, pessoas. Eis a lista da UFPR, de acordo com a ordem que postarei aqui as resenhas.

  • Lucíola (José de Alencar)
  • Urupês (Monteiro Lobato)
  • Inocência (Visconde de Taunay)
  • São Bernardo (Graciliano Ramos)
  • Felicidade Clandestina (Clarice Lispector)
  • Novas diretrizes em tempos de paz (Bosco Brasil)
  • Anjo negro (Nelson Rodrigues)
  • Romanceiro da inconfidência (Cecília Meireles)
  • Poemas escolhidos (Gregório de Matos)

Qualquer dúvida, entrem em contato pelo meu email: lorenaisabelle@hotmail.com