segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ode ao Livro

"Um cheiro: de páginas.
Tanto faz se velhas ou novas;
Brancas ou amareladas
Mas sempre o mesmo vício.

O método: as palavras.
Métrica, versos soltos,
Não importa...
Mas sempre a história.


Uma sensação: o toque.
O leve roçar de dedos pelas capas aleatórias
Ou vontade de pousar sob um dos mistérios...
Mas sempre o contato.


Então, um mundo...
Pois um só mundo nunca trouxe!!
Deu-lhes o deleite das mil maravilhas
E dos dragões, e dos castelos, e dos amores, e das mortes...

Por fim, apesar de desvendado o segredo da felicidade,
Contou-lhes mais histórias...
Criou gula em mentes enferrujadas
Mostrou a felicidade solitária.

Dessa solidão, por si efêmera e doce,
Surgiram os Quixotes, as Cecílias, as Clarices...
Quando preferia-se o vil metal
Ainda pensavam os Drummond's, os Pessoas, os Nerudas...

E, assim, nosso mundo gira
Nosso, não! Dos outros...
Daqueles que enchem seus bolsos de dinheiro, do nosso suor!
Dos que idolatram a tela brilhante como índios quinhentistas.

Pois o "nosso" mundo é plural,
Sem semântica...Um pouco mais de paixão!
Nele existem bicicletas voadoras, pensadores suicidas e Casmurros amantes...
Há vida!

Encerro com as mais sinceras desculpas.
Por qualquer arrependimento ou abandono!
Ah, caro Livro...
Perdoe-lhes a rotina e a própria indulgência.

Mal sabem eles que não haverá mudança
Sem que exista cultura.
Ou sabem...
E preferem a escuridão da certeza cega."

Em homenagem ao Dia Mundial do Livro, eis uma história belíssima aos amantes de páginas:

terça-feira, 17 de abril de 2012

Quando um oceano não me basta

  
"Um dia, em uma cidade na beira do mundo, a maré saiu e nunca mais voltou. O mar sumiu sem aviso prévio. A princípio as pessoas ficaram pouco mais do que intrigadas. Eles continuaram a fofocar e lutar pelas mesmas velhas coisas. Mas logo um silêncio começou a permear o município. Um deserto de magnitude inacreditável estava se formando diante de seus olhos. 
  Semanas se passaram e ainda não havia sinal do oceano. As pessoas ficaram preocupadas. Foi decidido enviar um pequeno grupo para procurá-lo na esperança de trazê-lo de volta. 
  À medida que os dias passavam, mais e mais pessoas procuravam. As pessoas pesquisavam o mais longe possível, mas o mar tinha desaparecido sem deixar vestígios. A terra tranquila e outrora generosa tornou-se dura e inflexível. Em seguida, uma forma apareceu no horizonte. Através de uma explosão de assombro, o povo viu o que parecia ser água caindo e rolando em direção a eles. Uma onda de excitação atravessou a cidade, que observava ansiosamente o retorno do oceano. Mas à medida que se aproximava, esta forma tranformava-se. O que parecia água caindo era de fato cavalos selvagens. Em todos os lugares em que eles olhavam, viam cavalos cada vez mais perto. A excitação voltou-se para o medo. E o medo se tornou pânico, pois parecia que nada poderia parar o seu avanço. Que, como o desaparecimento do oceano veio sem aviso. Mas então ninguém, nem mesmo por um momento, tinha parado para questionar por que o oceano deixou-lhes, em primeiro lugar. 
  As pessoas não tinham escolha a não ser confiarem que os cavalos iriam levá-los ao seu oceano. Sem rédeas ou selas, eles montaram os cavalos em toda a terra estéril. Mas o oceano tinha desaparecido para sempre. E o povo não teve escolha senão se enfrentar a solidão de sua perda. Eles fizeram uma casa para eles em um novo ambiente. Apesar de que seu mundo particular havia mudado para sempre. Eles aprenderam a viver no espaço que oceano havia deixado. Embora a ideia do mar continuasse a pairar sob seus sonhos, eternamente."

Conto extraído do filme "Um refúgio no passado", por Celia Steimer (personagem representada por Emily Barclay).