domingo, 29 de setembro de 2013

Bom dia, tristeza!


Ventania.
Cai o telhado da minha romaria.
Meus cabelos se arrepiam com tanta mudança.
Tanta lambança.
Bagunça que me tira o pó das coisas.
Tenho sido levada, assim.
Tudo está de cabeça para baixo.
Perco gente. Acho e reencaixo.
E dói, viu...
Luto contra o que me forma.
Luto contra minha luta.
E me desfaço em solidão e cansaço.
A dúvida ronda. 
Monta morada e faz a festa.
E, enquanto venta aqui dentro, silencio.
"Foge!".
Eu fico. Digo e repito.
Ventania,
Vê se me deixa p  r    a        l     á     .
domingo, 1 de setembro de 2013

Ela


Em algum momento de sua vida, você acordará com as garras do medo sob seu corpo. No meio da madrugada. E você não terá como recorrer a ninguém. Nesta hora, não se desespere, meu bem... Acontece. Aconteceu. Acontecerá novamente. O nome disso é solidão e todos estamos fadados a conhecê-la. Apesar disso, apesar do vai e vem angustiante e das visitas noturnas da senhora solidão, a gente sobrevive. Carrega um peso vazio, é verdade, mas sobrevive. A gente trabalha, come, dorme, sonha, chora e ri. A gente sofre de uma dor chata como espinho que lateja, mas se acostuma. Então, encontramos alguém que anestesia essa dor. Faz a solidão se afastar. Faz a noite mais quente e o dia mais rápido. A gente então não sobrevive. Se vive. Se abre. Se descobre. Se machuca. Como que num piscar de olhos, você se vê quase sozinho. Sim, quase. Você vai sempre ter a solidão. Todos carregamos ela, lembra? Você vai voltar a trabalhar, comer, dormir, sonhar, chorar e a rir também. Vai conhecer outro alguém. Vai viver, cair e voltar pra solidão. Acontece. Aconteceu. Acontecerá novamente. Um conselho te dou: nessa noite, se agasalha bem. A solidão gosta de se aproveitar de corações frios e almas quentes. Fecha a janela.Os olhos. E se agarre a si mesmo. Ela vai bater e irá embora. Você irá lembrar do ciclo doloroso. Vai derramar uma lágrima e dormirá. Pela manhã, já passou. Até que a próxima noite chegue. Acho que é a isso que alguns atribuem o nome de insônia. Pra mim, é só tristeza.
sábado, 1 de junho de 2013

O Jardim que não existiu



Era uma vez uma escolinha bem pequena, apesar do tão óbvio diminutivo. Acontece que essa escola tinha no máximo 15 salas. Era um recanto de crianças do pré à 4ª série (se isso fizer sentido pra você leitor é porque está ficando velho). Eu estudei lá. Amei lá. Fiquei de castigo no banco gelado perto da cantina. Ahh, sim! Já ia me esquecendo: a cantina. Não que eu fosse gulosa. Ok, eu era. Enfim, já me perco do caminho. Era uma vez... Um muro coberto de trepadeiras. Ele ficava do lado da cantina, sabe? Eu era pequena e não tinha lá muitos amigos. Por ser gordinha não era a maior fã de super corridas no pátio. Ficava ali, meio encostada no muro, procurando uma passagem secreta. É, eu assisti ao filme "O jardim secreto" e me encantei. Pra mim tinha que haver uma porta lá, era absurdo que não houvesse. Eu queria meu jardim, e ponto final! Todos os dias, me lembro bem, eu passava o recreio procurando uma passagem, um símbolo, um sinal... Qualquer coisa. Eu só queria que minha imaginação pudesse trazer alguma realidade. Ninguém nunca soube disso, leitor. Então, me dê um crédito. Segredo de Estado, sabe como é, né?! Bom, hoje eu tive um daqueles flashs de memória. Lembrei disso como se estivesse lá. O cheiro, a gritaria dos meus coleguinhas, a textura daquele muro. Me deu saudade. Eu quis voltar pra lá e contar pra mim mesma que a ficção não deve ser provada. Tem que ser saboreada, pois se tivesse gosto de realidade seria azeda ou amarga. Não conheço criança que goste destes sabores. Deixa crescer e verá. Mas, como não posso, fico por aqui mesmo. Contando minhas histórias e sonhando com os meus muros. Quem sabe um dia eu encontro meu jardim? Quem sabe um dia você me mostra, hein leitor? E aí, só aí, eu posso dizer bem alto: "Era uma vez...".
quarta-feira, 1 de maio de 2013

Esquece e vai sorrir.


– Alô?
– Alô, quem fala?
– Oi, mano...
– Beto, é você?
– É...
– São 3 da madrugada, está tudo bem?
– Mano, lembra da Helena que eu criei? 
– Como assim? O que está acontecendo?
– Era minha melhor personagem. Eu lembro disso. Só disso.
– Lembro bem dela, e dos outros. Você sempre foi bom escritor. Mas podemos falar disso amanhã?
– Não.
– Por quê? Estou morrendo de sono. 
– Porque eu preciso lembrar. Me ajuda, mano.
– Se eu te ajudar, posso dormir?
– Pode.
– Tá bom, então. Você quer saber da Helena, né? Ela  era aquela personagem linda, de personalidade forte e que se apaixona por um canalha. Ela casa com ele e morre na final da trama. Mas, apesar do fim, qualquer um queria conhecer a Helena. Está bom assim?
– Hmm...
– Mais alguma coisa?
– Tem, sim... Eu não consigo me lembrar. Não consigo saber nem mais onde estou. Preciso de socorro. E se eu me esquecer de tudo que já criei? Mano...
– Calma, Beto. Vai ficar tudo bem. Amanhã nós vamos procurar um médico. Que tal? Você não vai se esqu...
– Já me esqueci. Se eu me perder deles, que será de mim?
– Confia em mim. Sou teu irmão mais novo, mas estou aqui. Você não vai se perder de si mesmo!
– Posso te pedir mais uma coisa?
– Sempre.
– Quero te ligar todas as noites enquanto esse tormento durar. Só você pode me contar sobre cada uma das obras que criei.
– Ligue. Vai ser um prazer te contar. 
– (...)
– (...)
– Beto, você está aí?
– (...)
– Beto??
– Alô. Quem fala?
(E a linha fica muda como o som que habita a mente de Beto. Eis as cegueiras da alma e da memória.)
quarta-feira, 6 de março de 2013

RESENHA DE CLARO ENIGMA


RESENHA: Claro Enigma.
AUTOR: Carlos Drummond de Andrade.
DATA DE PUBLICAÇÃO: 1951.
ESCOLA LITERÁRIA:  3ª Fase do Modernismo.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA: Uso da métrica rigorosa na poesia.
LINGUAGEM: Poética.
 
 Nesta obra, Drummond passa a focar temas abstratos como solidão, vida, morte e humanidade em geral. O isolamento rotineiro e tédio fazem desta obra modernista uma referência ao existencialismo niilista. O "Claro Enigma" é dividido em seis partes, sendo caracterizadas da seguinte maneira:
I) Entre o Lobo e o Cão: na primeira parte do livro as poesias Drummondianas remetem à efemeridade da vida. É neste capítulo que encontra-se o soneto "Oficina Irritada", tendo a primeira referência ao termo Claro Enigma, com sentido de um desafio fácil (pode-se referir ao fato de criar o próprio poema).
II) Notícias Amorosas: Durante a segunda parte há referência ao amor puro e apaixonado, às tristezas e memórias reunidas durante o caminho vivido.
III) O menino e os Homens: Há passagem da fase infantil para a morte precoce (no sentido figurado), tendo em vista a adaptação humana e acomodação na rotina.
IV) Selo de Minas: referência à inconfidência mineira.
V) Os lábios cerrados: mais um capítulo citando solidão, tristeza e consequente fim do ser humano sem ter realmente aproveitado a vida.
VI) A máquina do mundo: Percebe-se um elo entre natureza e criações humanas, sempre com o quesito fim sendo trazido à baila. 
 
Drummond mostra nesta obra a facilidade em chocar e seduzir os leitores ávidos e adocicar fatos cotidianos. Demonstra a passagem do tempo e nos encanta com sua combinação de delicadeza e veracidade. Carlos Drummond de Andrade prova sua realidade aos olhos mais astutos.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Resenha de Fogo Morto

RESENHA: Fogo Morto.
AUTOR: José Lins do Rego.
DATA DE PUBLICAÇÃO: 1943.
ESCOLA LITERÁRIA: 2ª Fase do Modernismo.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA: É considerada um documento sociológico e histórico.
LINGUAGEM: Popular do Paraíba.

Personagens:
  • Mestre José Amaro: trabalhador branco e livre. Possui forte orgulho por sua cor. Sabe das explorações sociais vindouras dos senhores de engenho, mas não as aceita. Mesmo sem poder alterar a sociedade brasileira, não se deixa calar. Odeia o Coronel José Paulino.
  • Coronel Lula de Holanda: representa a aristocracia arruinada dos engenhos. Tem poder feudal e moral, mas não econômico. O resultado de sua queda foi isolamento e apoio religiosos.
  • Vitorino Carneiro da Cunha: plebeu que abstrai-se do título de capitão. Gordo, alegre, espirituoso, corajoso. Esta personagem assemelha-se a uma união entre Sancho Pança e Dom Quixote.
  • Tenente Maurício: caracteriza-se pelo opressor. Comanda uma tropa de homens mais temíveis do que os próprios cangaços.
  • Negro passarinho: escravo recém libertado com vício em bebida.
  • Coronel José Paulino: Senhor de engenho rico e oportunista politicamente. Seu poder o faz destacar-se.
  • O cego torquato: personagem de ligação do cangaceiro Antônio Silvino.
  • Antônio Silvino: Cangaceiro, apoiado pelo seleiro, José Amaro.
  • Cabra Alípio: personagem extremamente devoto ao cangaço.
  • Adriana: esposa de Vitorino Carneiro da Cunha.
  • Sinhá: esposa de José Amaro. É odiada pelo marido em seus momentos de cólera.
  • Dona Amélia: esposa do Coronel Lula de Holanda. Representa a aristocracia feudal feminina. Moça prendada, educada na cidade e, agora, presa a tristeza do sertão nordestino.                                                         
Resenha:
Romance de feição realista, "Fogo Morto" é a décima obra de José Lins do Rego. Sendo a consagração do escritor, a obra é de cunho sociológico, sendo o foco as mudanças no Nordeste brasileiro desde o 2º Reinado ao início do século XX. O clímax se dá com a luta entre Senhores de Engenho e a Industrialização. Com a forte entrada industrial e aumento lucrativo no país, os Senhores de Engenho passaram ao pano de fundo, cultivando suas economias e terras de pouco valor, tratando-se de um "Fogo Morto".
O romance é a expressão cultural pois trata-se das diferenças e relações entre a Casa Grande e as Senzalas, como se estes estereótipos sociais fossem consequência do relacionamento entre ambas as classes.
Vídeos:

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Alma.


 A alma é uma criança aprisionada em um boneco de madeira. Enquanto milhares de pessoas olham aquele objeto engessado, a alma pulsa loucamente para que tentem perceber sua luz. Ela grita, embora ninguém a escute. Ela gesticula loucamente, mas ninguém nota. Por fim, se cala. A alma não morre, ela adormece...Esquece-se de sua própria limitação e deixa que aquele corpo rígido e bestial tome as rédeas do que poderia ser uma vida. A alma é mais do que orgulho. É amor. Enquanto o sol continua seu show, a alma espera um momento de glória, espera ser vida. Quando, finalmente consegue libertar-se é porque os moldes não bastaram. A alma é uma criança aprisionada em um boneco de madeira. Feliz.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

As resenhas estão de volta!


  Este ano de 2012 foi um tanto quanto pesado para mim. Muito tempo estudando e pouco tempo me divertindo. Apesar de todo o esforço não consegui alcançar meu objetivo: entrar na faculdade. Entretanto, tive pessoas maravilhosas que me deram apoio e me ajudaram a redescobrir minha força. Enfim, ano passado fiz uma resenha sobre cada obra do vestibular UFPR com objetivo de ajudar não apenas em minha memorização, mas auxiliar a outros vestibulandos (também conhecidos como sofredores rs). Hoje esta postagem traz a nova lista de livros e as obras que continuam na lista (já fiz grande parte destas resenhas). Anexarei aqui as resenhas já feitas e postarei o restante com o tempo. Desejem-me boa sorte e que venha o vestibular! 

Lista de livros UFPR: 
" * " indica que a resenha ainda não foi postada.

A última quimera (Ana Miranda)*

Claro enigma (Carlos Drummond de Andrade)*

Fogo morto (José Lins do Rego)*

Os dois ou o Inglês maquinista (Luís Carlos Martins Pena) http://www.moinhodeverso.blogspot.com.br/2012/03/os-dois-ou-o-ingles-maquinista.html

O bom crioulo (Adolfo Caminha)*

Poemas escolhidos de Gregório de Matos (José Miguel