quarta-feira, 1 de maio de 2013

Esquece e vai sorrir.


– Alô?
– Alô, quem fala?
– Oi, mano...
– Beto, é você?
– É...
– São 3 da madrugada, está tudo bem?
– Mano, lembra da Helena que eu criei? 
– Como assim? O que está acontecendo?
– Era minha melhor personagem. Eu lembro disso. Só disso.
– Lembro bem dela, e dos outros. Você sempre foi bom escritor. Mas podemos falar disso amanhã?
– Não.
– Por quê? Estou morrendo de sono. 
– Porque eu preciso lembrar. Me ajuda, mano.
– Se eu te ajudar, posso dormir?
– Pode.
– Tá bom, então. Você quer saber da Helena, né? Ela  era aquela personagem linda, de personalidade forte e que se apaixona por um canalha. Ela casa com ele e morre na final da trama. Mas, apesar do fim, qualquer um queria conhecer a Helena. Está bom assim?
– Hmm...
– Mais alguma coisa?
– Tem, sim... Eu não consigo me lembrar. Não consigo saber nem mais onde estou. Preciso de socorro. E se eu me esquecer de tudo que já criei? Mano...
– Calma, Beto. Vai ficar tudo bem. Amanhã nós vamos procurar um médico. Que tal? Você não vai se esqu...
– Já me esqueci. Se eu me perder deles, que será de mim?
– Confia em mim. Sou teu irmão mais novo, mas estou aqui. Você não vai se perder de si mesmo!
– Posso te pedir mais uma coisa?
– Sempre.
– Quero te ligar todas as noites enquanto esse tormento durar. Só você pode me contar sobre cada uma das obras que criei.
– Ligue. Vai ser um prazer te contar. 
– (...)
– (...)
– Beto, você está aí?
– (...)
– Beto??
– Alô. Quem fala?
(E a linha fica muda como o som que habita a mente de Beto. Eis as cegueiras da alma e da memória.)