sexta-feira, 13 de julho de 2012

Deus segundo Spinoza



"Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste
comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti."

sábado, 7 de julho de 2012

Literalmente

Hoje é dia de Rascunho, caros leitores!
Primeiro: O Rascunho é um jornal paranaense sobre literatura, senhores. Eu, como leitora assídua, me senti traindo o blog sem colocar sequer uma novidade sobre essa maravilha que acompanho. Tenho certeza que vocês adorarão (conto com a possibilidade de gostarem, no mínimo, de literatura crítica).
"Ah, mas você vai postar trezentos tipos de textos aqui?"...Não! Hoje trago-lhes algo mais rápido e, na minha mera opinião, mais eficaz do que muitas palavras bem escritas (ou digitadas, no caso).
Sem mais delongas, eis aqui a genialidade de Marco Jacobsen:














domingo, 24 de junho de 2012

Miranda July



Olá, Literatos!
Hoje sairei da rotina. Que tal?
Vamos falar um pouco sobre uma escritora, dramaturga, cineasta, atriz e musicista de mão cheia: Miranda July




Uma das produções da artista é  Eu, você e todos nós, uma comédia dramática que, além de produzida, é também estrelada por Miranda. Assistam ao trailer:


Outra obra muito interessante, também de sua autoria, é o livro É claro que você sabe do que estou falando. A obra reúne dezesseis contos sobre o cotidiano (ouso comparar com o estilo de Clarice ao escrever Felicidade Clandestina). A excentricidade cai como uma luva ao livro, combinando com o título um tanto quanto grandioso e atrativo. Recomendo! Para quem estiver curioso (como eu fiquei quando a descobri), eis um aperitivo aos gulosos literários:

Espero que gostem da novidade e, buona lettura!


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cativa-me pela necessidade

Entrou naquele cubículo pouco iluminado e sentiu-se no paraíso. Fechou os olhos e tentou captar cada segundo por sua fragrância. Não conseguiu de todo. Haviam mais três mulheres naquele lugar, todas "matando" o tempo e buscando suas velhas e boas amigas, as revistas culinárias. Ela não. Apenas vivia o tempo em cada passagem suave de dedos pelas capas duras e surradas daqueles livros. Eram mágicos. Eis que a vendedora lhe quebra o encanto e pergunta: "Posso ajudar?". Não, não podia...Ela não queria "comprar", ela queria reviver cada uma das histórias que estavam ali. Tirar do pó e dar-lhes vida, existência através da leitura compassada e cheia de deleite. Ah, a vendedora não compreendia. Parecia até rir-se por dentro. Cada louco que aparece naquele sebo. Quando ela saiu, carregava um sacola com alguns gibis e quatro livros. Foi cativada, jamais cativou. O que era regra, contrariou-se. Aquelas páginas amareladas davam-lhe o sopro de vida que faria de sua semana algo um pouco mais aturável. Aquilo era um vício: tragava as estórias como quem tem abstinência de pessoas e sensações. E, quando iam-se acabando as páginas, derrubava-se sobre ela um nuvem espessa de tristeza e solidão. Sentia-se oca. Até a próxima visita àquele mundo caridoso em que nada nem ninguém poderiam alcançá-la. Assim raiavam os dias de uma compradora de sonhos.
domingo, 20 de maio de 2012

Poemas escolhidos de Gregório de Matos


Literatos, sinto muito por estar sem tempo para postagens e melhor elaboração de resenhas. No entanto, nada me impede de buscar blogs e sites de pesquisa sobre literatura em geral. Há algum tempo encontrei um blog (Mar de histórias: http://mardehistorias.wordpress.com/) muito interessante por sinal. Pois bem, unindo o útil ao agradável, resolvi postar aqui o link, contendo a resenha de Poemas escolhidos de Gregório de Matos e, para melhorar, o post deste blog contém um pouco sobre a história do nosso querido Boca Maldita
Espero ajudar e, mais uma vez, peço desculpas pela correria.

P.S.: Agradeço à querida Andreia Santana por me autorizar a utilizar o link aqui no blog :)
quinta-feira, 17 de maio de 2012

Disfarces de uma pessimista

Quando a boneca de pano toma forma, o mundo se assusta. Assusta-se pois uma falta de delicadeza assim, tão enorme, é demodê. Porque ser duro com o mundo é ser gigante aos indivíduos. Tudo balela. A boneca não sofre dores, não chora de saudade ou desilusão. Não. A boneca vive sorrindo, com seus babados a agradar os milhões de pares de olhos que a cercam. Ela não muda por medo de se mostrar, medo de sair do armário e gritar aos mil cantos o quanto viveu de olhos. Assim é o que se faz perceber. Ver o mundo como ele é, e só. Não é pessimismo, devaneio ou pura grosseria. A realidade deve ser bebida em longos goles, demorados e mornos, de acordo com o humor. Eu brindo a uma realidade que não será mais confundida com ignorância, mas com a sabedoria da dúvida. Uma verdade bendita, que emudece os corações moles e dá forças aos mais racionais. Pessoas, compreendam de uma vez por todas: viver não é só achar partes doces de um sonho ou destruí-los com base em desilusão. Viver é, na maior parte do tempo, experimentar as centenas de sensações que nos são dadas. É olhar nos olhos e dizer a verdade, mesmo que ela seja dura ou apenas ideológica. Sim, todos mentimos também. Sim, temos dias de bom e mau humor. Esse vai e vem de partículas de solidão forma o que conhecemos por momento. Enquanto eu puder sorrir, pular, chorar, gritar, demonstrar minhas teorias mirabolantes e ler meus livros velhos...Bem, eu serei tão feliz quanto pinto no lixo. Mas, quando me dizem que minhas palavras demonstram dureza e pessimismo...Ah! Nó na garganta, isso é certo. Não me importo da dissonância entre nossos tons. Sou dura, sim. Pessimista, posso até ser. Mas, tenho certeza de uma coisa: isso faz de mim a pessoa que muitos conhecem e gostam (ou fingem gostar). E, por decência à minha personalidade um tanto quanto louca, não mudo. Não agora, não tem porquê. Me amem ou me odeiem. Eu sou assim e ponto final (ou quem sabe umas belas reticências para provar meu senso de otimismo inconsciente)...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Anjo Negro


 Escrita em 1964, a obra Anjo Negro caracteriza-se pelo apogeu do escritor Nelson Rodrigues na área de literatura teatral brasileira. O autor teve por objetivo demonstrar o racismo da época, deixando claro a relação entre negros no teatro, sendo restritos a comédias e pouca valorização como atores. O trunfo de Nelson encontra-se em modificar a questão preconceituosa provando que, feliz ou infelizmente, há preconceito entre indivíduos de mesma raça, bem como o oposto. Também nota-se a questão política pela qual o Brasil passava (crise vindoura do governo Vargas e Golpe Militar em 1964, modificando completamente a forma de governo). Quando lançada ao público, a peça Anjo Negro foi censurada e liberada apenas em 1966.
 O enredo discorre num espaço pequeno, contando apenas com a casa dos personagens e seu quintal. Se desenvolve no decorrer de 15 anos, tendo altos e baixos de acordo com surgimento de conflitos entre os personagens principais, que são:
  • Ismael: médico negro, inescrupuloso e violento. Ismael tem extremo repúdio de pessoas negras e amor a cor branca. Cega seu irmão (branco) e sua "filha", sendo que no segundo caso mente à menina para enganá-la, dizendo-se o único branco na terra e homem puro de corpo e alma. Suas reações são brutais, nota-se pelo isolamento de sua esposa, Virgínia.
  • Virgínia: esposa de Ismael. É branca e é violentada pelo marido. No início da trama, conta-se que a personagem sente desejo pelo noivo de sua prima e se deixa possuir. Sua prima, ao descobrir o caso entre os dois, se enforca. A tia de Virgínia se vinga da sobrinha planejando o estupro da mesma por Ismael. A principal característica desta personagem é a capacidade de usar de sexualidade para se livrar (ou se prevenir) das violências do marido. Tal característica a salva no fim da trama.
  • Elias: irmão de criação de Ismael. É branco e traiu o irmão com Virgínia, engravidando-a de Ana Maria, menina também branca e que, assim como o pai legítimo, é cegada por Ismael.
  • Ana Maria: filha do caso extraconjugal de Virgínia e Elias, Ana é inexpressiva e só aparece realmente no terceiro ato da obra. É abusada sexualmente e enganada pelo pai de criação, Ismael.
  • Tia de Virgínia: mulher violenta e vingativa. Tem extremo ciúme e mania protetora pelas filhas que lhe sobraram (após a morte de sua filha que estava noiva), que são chamadas por ela de "velhas e encalhadas".
 A astúcia utilizada por Nelson Rodrigues provou sua capacidade como escritor fiel aos fatos cotidianos e ignorados, tendo como método chocar o leitor, demonstrando através de seus personagens extremistas e problemáticos o que poucos autores tiveram coragem de mostrar na época: a realidade.


Para complementar a resenha, disponibilizo aqui no blog a análise feita no canal da Gazeta do Povo. Não consta o nome do professor responsável pela mesma, peço desculpas aos leitores.