domingo, 24 de junho de 2012

Miranda July



Olá, Literatos!
Hoje sairei da rotina. Que tal?
Vamos falar um pouco sobre uma escritora, dramaturga, cineasta, atriz e musicista de mão cheia: Miranda July




Uma das produções da artista é  Eu, você e todos nós, uma comédia dramática que, além de produzida, é também estrelada por Miranda. Assistam ao trailer:


Outra obra muito interessante, também de sua autoria, é o livro É claro que você sabe do que estou falando. A obra reúne dezesseis contos sobre o cotidiano (ouso comparar com o estilo de Clarice ao escrever Felicidade Clandestina). A excentricidade cai como uma luva ao livro, combinando com o título um tanto quanto grandioso e atrativo. Recomendo! Para quem estiver curioso (como eu fiquei quando a descobri), eis um aperitivo aos gulosos literários:

Espero que gostem da novidade e, buona lettura!


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cativa-me pela necessidade

Entrou naquele cubículo pouco iluminado e sentiu-se no paraíso. Fechou os olhos e tentou captar cada segundo por sua fragrância. Não conseguiu de todo. Haviam mais três mulheres naquele lugar, todas "matando" o tempo e buscando suas velhas e boas amigas, as revistas culinárias. Ela não. Apenas vivia o tempo em cada passagem suave de dedos pelas capas duras e surradas daqueles livros. Eram mágicos. Eis que a vendedora lhe quebra o encanto e pergunta: "Posso ajudar?". Não, não podia...Ela não queria "comprar", ela queria reviver cada uma das histórias que estavam ali. Tirar do pó e dar-lhes vida, existência através da leitura compassada e cheia de deleite. Ah, a vendedora não compreendia. Parecia até rir-se por dentro. Cada louco que aparece naquele sebo. Quando ela saiu, carregava um sacola com alguns gibis e quatro livros. Foi cativada, jamais cativou. O que era regra, contrariou-se. Aquelas páginas amareladas davam-lhe o sopro de vida que faria de sua semana algo um pouco mais aturável. Aquilo era um vício: tragava as estórias como quem tem abstinência de pessoas e sensações. E, quando iam-se acabando as páginas, derrubava-se sobre ela um nuvem espessa de tristeza e solidão. Sentia-se oca. Até a próxima visita àquele mundo caridoso em que nada nem ninguém poderiam alcançá-la. Assim raiavam os dias de uma compradora de sonhos.
domingo, 20 de maio de 2012

Poemas escolhidos de Gregório de Matos


Literatos, sinto muito por estar sem tempo para postagens e melhor elaboração de resenhas. No entanto, nada me impede de buscar blogs e sites de pesquisa sobre literatura em geral. Há algum tempo encontrei um blog (Mar de histórias: http://mardehistorias.wordpress.com/) muito interessante por sinal. Pois bem, unindo o útil ao agradável, resolvi postar aqui o link, contendo a resenha de Poemas escolhidos de Gregório de Matos e, para melhorar, o post deste blog contém um pouco sobre a história do nosso querido Boca Maldita
Espero ajudar e, mais uma vez, peço desculpas pela correria.

P.S.: Agradeço à querida Andreia Santana por me autorizar a utilizar o link aqui no blog :)
quinta-feira, 17 de maio de 2012

Disfarces de uma pessimista

Quando a boneca de pano toma forma, o mundo se assusta. Assusta-se pois uma falta de delicadeza assim, tão enorme, é demodê. Porque ser duro com o mundo é ser gigante aos indivíduos. Tudo balela. A boneca não sofre dores, não chora de saudade ou desilusão. Não. A boneca vive sorrindo, com seus babados a agradar os milhões de pares de olhos que a cercam. Ela não muda por medo de se mostrar, medo de sair do armário e gritar aos mil cantos o quanto viveu de olhos. Assim é o que se faz perceber. Ver o mundo como ele é, e só. Não é pessimismo, devaneio ou pura grosseria. A realidade deve ser bebida em longos goles, demorados e mornos, de acordo com o humor. Eu brindo a uma realidade que não será mais confundida com ignorância, mas com a sabedoria da dúvida. Uma verdade bendita, que emudece os corações moles e dá forças aos mais racionais. Pessoas, compreendam de uma vez por todas: viver não é só achar partes doces de um sonho ou destruí-los com base em desilusão. Viver é, na maior parte do tempo, experimentar as centenas de sensações que nos são dadas. É olhar nos olhos e dizer a verdade, mesmo que ela seja dura ou apenas ideológica. Sim, todos mentimos também. Sim, temos dias de bom e mau humor. Esse vai e vem de partículas de solidão forma o que conhecemos por momento. Enquanto eu puder sorrir, pular, chorar, gritar, demonstrar minhas teorias mirabolantes e ler meus livros velhos...Bem, eu serei tão feliz quanto pinto no lixo. Mas, quando me dizem que minhas palavras demonstram dureza e pessimismo...Ah! Nó na garganta, isso é certo. Não me importo da dissonância entre nossos tons. Sou dura, sim. Pessimista, posso até ser. Mas, tenho certeza de uma coisa: isso faz de mim a pessoa que muitos conhecem e gostam (ou fingem gostar). E, por decência à minha personalidade um tanto quanto louca, não mudo. Não agora, não tem porquê. Me amem ou me odeiem. Eu sou assim e ponto final (ou quem sabe umas belas reticências para provar meu senso de otimismo inconsciente)...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Anjo Negro


 Escrita em 1964, a obra Anjo Negro caracteriza-se pelo apogeu do escritor Nelson Rodrigues na área de literatura teatral brasileira. O autor teve por objetivo demonstrar o racismo da época, deixando claro a relação entre negros no teatro, sendo restritos a comédias e pouca valorização como atores. O trunfo de Nelson encontra-se em modificar a questão preconceituosa provando que, feliz ou infelizmente, há preconceito entre indivíduos de mesma raça, bem como o oposto. Também nota-se a questão política pela qual o Brasil passava (crise vindoura do governo Vargas e Golpe Militar em 1964, modificando completamente a forma de governo). Quando lançada ao público, a peça Anjo Negro foi censurada e liberada apenas em 1966.
 O enredo discorre num espaço pequeno, contando apenas com a casa dos personagens e seu quintal. Se desenvolve no decorrer de 15 anos, tendo altos e baixos de acordo com surgimento de conflitos entre os personagens principais, que são:
  • Ismael: médico negro, inescrupuloso e violento. Ismael tem extremo repúdio de pessoas negras e amor a cor branca. Cega seu irmão (branco) e sua "filha", sendo que no segundo caso mente à menina para enganá-la, dizendo-se o único branco na terra e homem puro de corpo e alma. Suas reações são brutais, nota-se pelo isolamento de sua esposa, Virgínia.
  • Virgínia: esposa de Ismael. É branca e é violentada pelo marido. No início da trama, conta-se que a personagem sente desejo pelo noivo de sua prima e se deixa possuir. Sua prima, ao descobrir o caso entre os dois, se enforca. A tia de Virgínia se vinga da sobrinha planejando o estupro da mesma por Ismael. A principal característica desta personagem é a capacidade de usar de sexualidade para se livrar (ou se prevenir) das violências do marido. Tal característica a salva no fim da trama.
  • Elias: irmão de criação de Ismael. É branco e traiu o irmão com Virgínia, engravidando-a de Ana Maria, menina também branca e que, assim como o pai legítimo, é cegada por Ismael.
  • Ana Maria: filha do caso extraconjugal de Virgínia e Elias, Ana é inexpressiva e só aparece realmente no terceiro ato da obra. É abusada sexualmente e enganada pelo pai de criação, Ismael.
  • Tia de Virgínia: mulher violenta e vingativa. Tem extremo ciúme e mania protetora pelas filhas que lhe sobraram (após a morte de sua filha que estava noiva), que são chamadas por ela de "velhas e encalhadas".
 A astúcia utilizada por Nelson Rodrigues provou sua capacidade como escritor fiel aos fatos cotidianos e ignorados, tendo como método chocar o leitor, demonstrando através de seus personagens extremistas e problemáticos o que poucos autores tiveram coragem de mostrar na época: a realidade.


Para complementar a resenha, disponibilizo aqui no blog a análise feita no canal da Gazeta do Povo. Não consta o nome do professor responsável pela mesma, peço desculpas aos leitores.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ode ao Livro

"Um cheiro: de páginas.
Tanto faz se velhas ou novas;
Brancas ou amareladas
Mas sempre o mesmo vício.

O método: as palavras.
Métrica, versos soltos,
Não importa...
Mas sempre a história.


Uma sensação: o toque.
O leve roçar de dedos pelas capas aleatórias
Ou vontade de pousar sob um dos mistérios...
Mas sempre o contato.


Então, um mundo...
Pois um só mundo nunca trouxe!!
Deu-lhes o deleite das mil maravilhas
E dos dragões, e dos castelos, e dos amores, e das mortes...

Por fim, apesar de desvendado o segredo da felicidade,
Contou-lhes mais histórias...
Criou gula em mentes enferrujadas
Mostrou a felicidade solitária.

Dessa solidão, por si efêmera e doce,
Surgiram os Quixotes, as Cecílias, as Clarices...
Quando preferia-se o vil metal
Ainda pensavam os Drummond's, os Pessoas, os Nerudas...

E, assim, nosso mundo gira
Nosso, não! Dos outros...
Daqueles que enchem seus bolsos de dinheiro, do nosso suor!
Dos que idolatram a tela brilhante como índios quinhentistas.

Pois o "nosso" mundo é plural,
Sem semântica...Um pouco mais de paixão!
Nele existem bicicletas voadoras, pensadores suicidas e Casmurros amantes...
Há vida!

Encerro com as mais sinceras desculpas.
Por qualquer arrependimento ou abandono!
Ah, caro Livro...
Perdoe-lhes a rotina e a própria indulgência.

Mal sabem eles que não haverá mudança
Sem que exista cultura.
Ou sabem...
E preferem a escuridão da certeza cega."

Em homenagem ao Dia Mundial do Livro, eis uma história belíssima aos amantes de páginas:

terça-feira, 17 de abril de 2012

Quando um oceano não me basta

  
"Um dia, em uma cidade na beira do mundo, a maré saiu e nunca mais voltou. O mar sumiu sem aviso prévio. A princípio as pessoas ficaram pouco mais do que intrigadas. Eles continuaram a fofocar e lutar pelas mesmas velhas coisas. Mas logo um silêncio começou a permear o município. Um deserto de magnitude inacreditável estava se formando diante de seus olhos. 
  Semanas se passaram e ainda não havia sinal do oceano. As pessoas ficaram preocupadas. Foi decidido enviar um pequeno grupo para procurá-lo na esperança de trazê-lo de volta. 
  À medida que os dias passavam, mais e mais pessoas procuravam. As pessoas pesquisavam o mais longe possível, mas o mar tinha desaparecido sem deixar vestígios. A terra tranquila e outrora generosa tornou-se dura e inflexível. Em seguida, uma forma apareceu no horizonte. Através de uma explosão de assombro, o povo viu o que parecia ser água caindo e rolando em direção a eles. Uma onda de excitação atravessou a cidade, que observava ansiosamente o retorno do oceano. Mas à medida que se aproximava, esta forma tranformava-se. O que parecia água caindo era de fato cavalos selvagens. Em todos os lugares em que eles olhavam, viam cavalos cada vez mais perto. A excitação voltou-se para o medo. E o medo se tornou pânico, pois parecia que nada poderia parar o seu avanço. Que, como o desaparecimento do oceano veio sem aviso. Mas então ninguém, nem mesmo por um momento, tinha parado para questionar por que o oceano deixou-lhes, em primeiro lugar. 
  As pessoas não tinham escolha a não ser confiarem que os cavalos iriam levá-los ao seu oceano. Sem rédeas ou selas, eles montaram os cavalos em toda a terra estéril. Mas o oceano tinha desaparecido para sempre. E o povo não teve escolha senão se enfrentar a solidão de sua perda. Eles fizeram uma casa para eles em um novo ambiente. Apesar de que seu mundo particular havia mudado para sempre. Eles aprenderam a viver no espaço que oceano havia deixado. Embora a ideia do mar continuasse a pairar sob seus sonhos, eternamente."

Conto extraído do filme "Um refúgio no passado", por Celia Steimer (personagem representada por Emily Barclay).