segunda-feira, 28 de novembro de 2011

É-se. Sou-me. Tu te és.


O instante acaba de acontecer e você nem ao menos fechou os olhos e fez um pedido. Sim, desejo cheio de pureza. Momento de lucidez e escuridão. Passou...Passou...Passou. Vai sorrir quando o próximo segundo findar? Vai lembrar da primeira ideia, aquela por detrás do pensamento? A canção está devorando sua estupidez enquanto minhas palavras te mostram um emaranhado sem fim. Uma pergunta rondando: quem sou eu? A resposta é simples: sou. Independentemente do que você lê. Eu sou o que tento descobrir. A cada segundo que passa...que passou mais uma vez. Querendo a palavra última que já se confunde com a primeira. Se bagunçando no real de uma mente à esquerda de quem entra e faz estremecer o mundo. O instante passará, o que você sonhará ao fim da oração?
quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Aliterário


Vê a ventania bater galhos na janela
Colhe as flores molhadas de pétalas gélidas
Para na praça pra ver a primavera
Percebe as pessoas posando de réplicas.
Conta quanta lua te resta no céu coxo da memória
Olha no olho do futuro, mas mantém o pé presente no agora
Cuidado com o que não te pertenceu, pra não sonhar de falsa história
Ouça o som reverberar no corpo e interagir com a aurora.
Sinta saudade do que já foi seu e siga as canções
Lê um lento literato de aliterações
Deixa de brigar com o que vem de dentro e me diz
Mas lembra: ainda sou aprendiz.
domingo, 13 de novembro de 2011

Teu sorriso te declara, teu segredo só te faz refém


Ah palhacinho! Sorri pro mundo de coração. Teu nariz rubro faz a alegria de crianças, de corpo e alma. Mas quando você chora, meu querido, o mundo fica cinza. Não por notarem tua tristeza, pois seus gracejos continuam intactos. Mas por uma lágrima solitária que lhe dança na face. Olha pra mim, palhacinho, mostre-me o segredo dos seus olhos escuros e ternos. Conta tua vida agridoce, cheia de sol e dia nublado. Descubra-te deste manto cruel de vida cotidiana e deixa o espírito correr livre, contagiante. E me faz feliz. Nasce, meu palhaço. Existe, meu Pierrot. Chora da dança maldita que todos ritmamos, mas depois lembra que seu sorriso salva os passos. Sente a dor momentânea, pois amanhã você lembrará do calor dos raios de sol na tua janela. E vai sorrir.
domingo, 6 de novembro de 2011

Amiga grande


Alguém bem sábio me disse pra parar de carregar o que não me pertence. E eu parei. Depois de tanto tempo tentando colocar ordem ao caos das pessoas rotineiras, vi que minhas risadas começaram a juntar pó. Uma camada espessa de preocupação e tristeza. Fui-me enferrujando e travando nos detalhes, nas brigas e dores dos outros. E quando o mundo quis ruir, alguém me acordou pra um universo que hoje chamo de meu. Esse alguém tem pouco mais de um metro e cinquenta de altura, mas tem um coração enorme. É doida, doidinha...É a melhor amiga que posso pedir. O mais interessante é que quando algo dá errado eu volto pras minhas memórias tentando sentir aquele abraço que só ela pode me dar, tento ouvir sua risada sonora ou seus passinhos frenéticos no assoalho da biblioteca. E quando consigo, fico exultante. Taí minha felicidade. Mas o bom mesmo é saber que nós vamos morrer bem velhinhas, bem gagás...Como é bom ter uma amiga grande!
sexta-feira, 4 de novembro de 2011

As paixões humanas



"Eu considero inteligente o homem que em vez de desprezar este ou aquele semelhante é capaz de o examinar com olhar penetrante, de lhe sondar por assim dizer a alma e descobrir o que se encontra em todos os seus desvãos. Tudo no homem se transforma com grande rapidez; num abrir e fechar de olhos, um terrível verme pode corroer-lhe as entranhas e devorar-lhe toda a sua substância vital. Muitas vezes uma paixão, grande ou mesquinha pouco importa, nasce e cresce num indivíduo para melhor sorte, obrigando-o a esquecer os mais sagrados deveres, a procurar em ínfimas bagatelas a grandeza e a santidade. As paixões humanas não têm conta, são tantas, tantas, como as areias do mar, e todas, as mais vis como as mais nobres, começam por ser escravas do homem para depois o tiranizarem.Bem-aventurado aquele que, entre todas as paixões, escolhe a mais nobre: a sua felicidade aumenta de hora a hora, de minuto a minuto, e cada vez penetra mais no ilimitado paraíso da sua alma. Mas existem paixões cuja escolha não depende do homem: nascem com ele e não há força bastante para as repelir. Uma vontade superior as dirige, têm em si um poder de sedução que dura toda a vida. Desempenham neste mundo um importante papel: quer tragam consigo as trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem."
(Nikolai Gogol)
terça-feira, 25 de outubro de 2011

D'attente à la fenêtre

Espero.
Espero o dia em que as nuvens serão apreciadas como devem
Algodões que nos avisam um sol futuro
Aguardo o momento em que o sorriso ultrapassará palavras ríspidas
E a ironia será diferente de sarcasmo
Vou esperar o tempo em que me será fácil apreciar um abraço sincero
Uma flor, um espinho,
O calor do carinho...
Aguardo os versos soltos e entupidos de veracidade
Sem rodeios. Discurso direto. Sem preposição.
À moda gramatical.
Com o som de um simples sujeito: Eu.
Que grita e surra diariamente.
Me provoca de dentro, causando tremor
E me mantém viva.
Não. Não vou depender da ideia de ninguém
Não confio o bastante para meu eu virar nós
Que só serve pra enrolar, torcer e marcar.
Cuido de mim de maneira limpa
Não minto nas palavras ou na voz cancioneira
Aprendi que pra dor ou por ela não se mente
E quando o fazemos, prorrogamos
Não tem valia. Devemos concordar.
Mas então, já te contei que eu espero?
sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Poema das Onze e meia


"Vozes bailam em minha mente
Dançam a valsa do amanhecer
O bolero da tarde
E embalam um ninar junto à lua.
Quando o sorriso me brota
Ouço sons afinados de alegria
Se a lágrima cai
Sinto o burburinho do alento
E ao ouvir outras vozes, elas respondem:
- "Gosto tanto, tanto quanto, como quando..."
Calam as vozes.
Algumas vezes sinto que me faltam
Outras me deixam livre demais
Em outros momentos são abafadas
Pelo choro mudo, pelas cordas vocais
Pelo som da gargalhada.
Mas nem sempre as ouço
Porque, apesar dos pesares
Existem vozes que me gritam de fora:
-"Amo tanto, tanto quanto, sem ter quando..."
São vozes familiares aos ouvidos
Doces do coração
Amigas d'alma
Sim. Vozes bailam em minha mente
Dançam a valsa do amanhecer
O bolero da tarde
Embalam o sonhar das onze e meia
E eu durmo de embriaguez...
SO....NO....LEN...TA!"