segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cativa-me pela necessidade

Entrou naquele cubículo pouco iluminado e sentiu-se no paraíso. Fechou os olhos e tentou captar cada segundo por sua fragrância. Não conseguiu de todo. Haviam mais três mulheres naquele lugar, todas "matando" o tempo e buscando suas velhas e boas amigas, as revistas culinárias. Ela não. Apenas vivia o tempo em cada passagem suave de dedos pelas capas duras e surradas daqueles livros. Eram mágicos. Eis que a vendedora lhe quebra o encanto e pergunta: "Posso ajudar?". Não, não podia...Ela não queria "comprar", ela queria reviver cada uma das histórias que estavam ali. Tirar do pó e dar-lhes vida, existência através da leitura compassada e cheia de deleite. Ah, a vendedora não compreendia. Parecia até rir-se por dentro. Cada louco que aparece naquele sebo. Quando ela saiu, carregava um sacola com alguns gibis e quatro livros. Foi cativada, jamais cativou. O que era regra, contrariou-se. Aquelas páginas amareladas davam-lhe o sopro de vida que faria de sua semana algo um pouco mais aturável. Aquilo era um vício: tragava as estórias como quem tem abstinência de pessoas e sensações. E, quando iam-se acabando as páginas, derrubava-se sobre ela um nuvem espessa de tristeza e solidão. Sentia-se oca. Até a próxima visita àquele mundo caridoso em que nada nem ninguém poderiam alcançá-la. Assim raiavam os dias de uma compradora de sonhos.

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