terça-feira, 27 de março de 2012

Os dois ou o inglês maquinista

Comédia de um só ato, escrita em 1845, Os dois ou o Inglês maquinista carrega uma denúncia interessante quanto a sociedade da época: a relação entre escravos e seus senhores. "Mas, já não havia o policiamento por parte dos ingleses com relação ao tráfico negreiro?". Sim, havia. No entanto, assim como hoje, ocorriam as ilegalidades tão gerais e lucrativas. O autor da obra, Martins Pena, consegue demonstrar com muita facilidade a questão tão bem conhecida de uma sociedade onde a ilegalidade tornara-se rotina. 
A trama desenvolve-se a partir de uma dúvida: desposar Mariquinha, sendo que a brasileirinha possui três pretendentes (Gainer, Felício e Sr. Negreiro). Gainer é um inglês astuto, que tem ideias mirabolantes a respeito de desenvolvimentos econômicos, lucrando com seus engenhos em cima de pessoas ingênuas e cheias de esperança. Sr. Negreiro é negociante de escravos jovens (conhecidos como meias-caras), também tem por objetivo o dote da moça. Felício é primo de Mariquinha e o único que realmente quer casar por amor. A peça narra os conflitos criados por Felício entre os dois outros concorrentes. No entanto, Dn. Clemência, mãe de Mariquinha, tem certa $impatia pelo Sr. Negreiro. O desfecho da peça é extremamente cativante e inusitado: o marido de Dn. Clemência, que havia desaparecido durante 2 anos, retorna e descobre, através de Negreiro, que a "suposta" viúva havia convidado Gainer a desposá-la (fato verídico na trama). Alberto (marido de Clemência) também escuta, escondido com Negreiro sob as cortinas da sala, que Felício e Mariquinha se amavam e estavam impossibilitados de consolidar tal união. Revolta-se e assusta a todos com sua aparição. Contudo, acaba por perdoar Clemência e abençõa o casamento entre os jovens Felício e Mariquinha.
Apesar das características um pouco românticas, Martins Pena consegue expôr o problema com relação aos escravos de maneira clara e crítica, de forma que o leitor compreenda a denúncia sem a utilização de metáforas ou rebuscamentos. Uma obra clássica da literatura brasileira que, merecidamente, será cobrada no vestibular da UFPR!





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